Long life learning, e Learning Maniac, a Mania de Aprender.
- Mauro Sarmento
- 23 de nov. de 2020
- 5 min de leitura
Atualizado: 23 de mai. de 2022
Vivemos tempos em que muita gente quer ser professor e emplacar escala com algum info-produto, ensinar algo de sua experiência ou transmitir algo com didática na internet. Então as plataformas EAD prosperam e realmente ajudam na receita passiva. Se você tem desenvoltura, didática e conhecimento, pode buscar uma empresa produtora e investir em uma vídeo-aula, curso etc... É lógico que esse é um processo em que você evolui como aprendiz até chegar no grau de professor ou facilitador. Nessa área não dá para ser amador. E como atingir esse nível sem se colocar como constante aprendiz?
Passei os últimos anos muito curioso sobre um dos grandes mistérios da liderança e mudança: Por que é que as pessoas e organizações com mais experiência, conhecimento e recursos num determinado campo são frequentemente as últimas a ver e a aproveitar as oportunidades para algo dramaticamente novo? Inovação?
O conceito do "paradoxo da perícia"
Quando a gente olha de perto para uma indústria, marca ou mesmo para um executivo, quanto mais sucesso essa indústria, marca ou indivíduo tem em um mercado ou profissão, mais difícil que vejam, reconheçam e absorvam novos padrões, perspectivas e possibilidades. Geralmente, estão fixados no conhecido jeito de fazer. Aquele que sempre deu certo, e pela lógica, o melhor jeito. Será?
É por isso que os melhores líderes são aqueles que se colocam como aprendizes insaciáveis. E devemos questionar; por que é que todos os líderes, onde quer que estejam na organização, têm de continuar se perguntando: Estou conseguindo aprender na mesma velocidade das mudanças do mundo?
Tenho lido e acompanhado muitos líderes com grandes ideias sobre o futuro.
Procurei nos canais acadêmicos e especializados em desenvolvimento de lideranças, se havia algum conceito ou atributo especial que me mostrasse as características para o sucesso profissional e empresarial. Dicas que me revelassem algo especial sobre educação ou aprendizados nesse sentido. Foi então que me deparei com a história da WD-40.
Eu já havia estudado o caso da 3M e sabia que a empresa conta com múltiplos programas de capacitação para ser líder de pensamento em inovação, mas ao ler sobre o case da WD-40 Company, e descobrir que seu CEO Garry O. Ridge defende como filosofia a aprendizagem contínua "Long life Learning", para acompanhar as mudanças do mundo, muita coisa que acredito e utilizo profissionalmente passou a fazer sentido. Me identifiquei totalmente com ele.
De fato, não tenho certeza de ter ouvido falar sobre um CEO que tenha colocado a aprendizagem mais no centro das atividades do que o Sr. Ridge. Ou alguém que tenha desenvolvido mais sede de aprendizagem entre todos os seus colegas. Foi interessante para mim entender como ele enfrenta o "paradoxo da perícia", falando de suas lições aprendidas para organizações há muito estabelecidas em todos os tipos de campos. Assisti ele no Youtube! Muito empático.
O executivo leva tão a sério o compromisso com aprendizagem que insiste que todos na empresa façam o "WD-40 Maniac Pledge", uma espécie de voto solene de se tornarem, nas suas palavras, um "maníaco de aprendizagem". Este senhor vai mesmo aos limites da didática!
Ele afirma: “Sou responsável por planejar, fazer perguntas, obter respostas, e tomar decisões. Não vou esperar que alguém me diga. Se eu precisar saber, sou responsável por perguntar, por aprender. Não tenho o direito de ficar ofendido por não ter "aprendido isto mais cedo". Se estou fazendo algo que os outros devem saber, também sou responsável por lhes dizer”.
O impacto da "Learning Maniac"no mito WD-40
Interessante analisar como o WD-40 é um cenário improvável para uma cultura tão obcecada pela aprendizagem. Não é uma marca glamorosa, mas é icônica à sua própria maneira.
Quase todas as pessoas que trabalham com carros, ou que fazem reparos domésticos, ou apenas querem ver-se livres de um rangidos de dobradiças, ou alguma ferrugem, têm uma daquelas latas azuis e amarelas brilhantes na sua garagem ou em sua caixa de ferramentas ou despensa.
Quando Garry Ridge assumiu o controle da empresa, o conhecido WD-40, que era utilizado em quatro ou cinco lares americanos, passou a ser empregado em praticamente todos os segmentos da indústria. Fábricas, minas, construção civil, etc... Um amigo engenheiro, Felipe Brochier, me contou que os bombeiros retiraram um ladrão de um cano de exaustão de um supermercado com o spray lubrificante. Disse que também usou para desoxidar os contatos do meu carregador de celular. Pode tentar, é milagroso.
O CEO rapidamente percebeu que a forte segmentação domestica do produto era tanto uma bênção como uma maldição. Uma marca cultuada que fazia verdadeiramente parte do tecido da vida americana. No entanto, a empresa era também um pônei de circo com um só truque. Tinha basicamente o produto único, que vendia principalmente no país de origem.
Como as ações pagavam quase 100% dos seus lucros como dividendos - porque não sabia mais o que fazer com o dinheiro. "O WD-40 chegou fácil ao status de “produto de culto", um artigo proclamado nas ferragens. Mas, ferragens não sustentam uma marca, pois não se vende bem “estoques de culto". todos sabem, estoque pode matar! A "própria natureza do sucesso segmentado no passado do WD-40, o condenou a marca a um baita fracasso".
O salto no trampolim do aprendizado
A WD-40 vende agora os seus produtos em 176 países, as vendas só na Europa são maiores do que as vendas totais da empresa quando o Ridge assumiu o controle, e lançou uma coleção de novas marcas e produtos. Bom trabalho de portfólio!
O preço das ações quase triplicou desde 2009, e a empresa tornou-se, pela primeira vez, uma empresa de um Bilhão dólares em valor de mercado. (Recentemente, as ações da WD-40 aproximavam-se dos 120 dólares cada uma e o seu valor de mercado aproximava-se dos 1,7 Bilhões de dólares, marco inédito para a empresa).
Não há dúvida de que Garry Ridge tornou a WD-40 Company mais interessante do que quando assumiu o seu controle. Ele conseguiu este feito ao exigir que ele e os seus colegas se interessassem mais e mais pelo que era possível aprender para usar na organização, sobre produtos possíveis, sobre o mercado e a marca.
Ridge reformulou a cultura, redefiniu o trabalho dos seus líderes, abraçou uma linguagem totalmente nova, inovação, e lançou premiações para metas de aprendizagem, experimentação, improvisação. Ele transformou um negócio obsoleto em algo ágil, através da mente aberta.
O aprendiz
"Tivemos enormes oportunidades de crescimento, mas as pessoas tinham medo de sair dos seus papéis. O medo do fracasso é o maior medo do mundo. Tivemos que passar do fracasso à liberdade".
É por isso que o ritual central da vida na empresa é o que Ridge chama o "momento de aprendizagem" - um período de frustração, uma explosão de inspiração, um avanço da colaboração em que as pessoas tropeçam num problema, desenterram numa oportunidade, ou falham miseravelmente numa iniciativa, e depois comunicam o que aprenderam sem medo de represálias. Inovação startup na veia!
"Os momentos de aprendizagem podem ser positivos ou negativos, mas nunca são maus, desde que sejam partilhados para benefício de todos", diz ele. "Quero que as pessoas sejam questionadoras, quero que as pessoas façam perguntas e corram riscos". O meu trabalho é criar uma empresa de aprendizes. Gosto de perguntar ao meu povo e a mim mesmo, quando foi a última vez que fez algo pela primeira vez?"
Nota-se que a bandeira que o empresário carrega, é a bandeira do conceito de lifelong learning – aprendizagem ao longo da vida, em tradução livre. O termo refere a busca “contínua, voluntária e auto-motivada” pela atualização conhecimento, profissional, acadêmico ou pessoal. Segundo a Lifelong Learning Council Queensland (LLCQ), instituição que dissemina o conceito ao redor do mundo, a ideia de lifelong learning é definida como “o aprendizado que é perseguido durante a vida: um aprendizado que é flexível, diverso e disponível em diferentes tempos e lugares. Atualmente, o lifelong learning estimula executivos, sensibiliza empresas, movimenta setores, promovendo aprendizado além da escola tradicional e ao longo da vida adulta”.
Quanto ao aprendiz Ridge da WD – 40, para sublinhar o seu empenho pessoal na cultura de aprendizado constante que está criando, sempre que responde um e-mail, Ridge põe na assinatura eletrônica a mensagem "ancora imparo", em italiano: "Ainda estou aprendendo".
Oi Maurinho. Quanto prazer em te encontrar.